O Brasil e vários outros países emergentes como Índia e China estão vivendo um momento importante de bonança, mas nem por isso devem deixar de acompanhar a evolução dos fatos na crise econômica européia que teve início na Grécia, encontrou-se com as dificuldades de Portugal, esbarrou nas dívidas Espanholas, aprofundou o caos na Itália e que agora ameaça se alastrar ao sistema financeiro internacional para além dos limites da Zona do Euro, causando preocupação e medo em países que não se recuperaram sequer da crise financeira mundial ocorrida em 2008.
Tudo começou quando o Governo grego teve que tornar públicas as dificuldades do país em lidar com o alto endividamento do governo, fruto da irresponsabilidade fiscal de seus dirigentes que ao afrouxarem a política monetária permitiram um desequilíbrio do orçamento, colocando a balança financeira da Grécia em desvantagem, a ponto de fazer o estado Grego dever mais do que toda a soma de sua arrecadação anual, perdendo assim a capacidade de custear a manutenção do estado, dos serviços públicos e sobretudo de oferecer condições de estabilidade que garantissem o emprego, o investimento contínuo e uma política financeira anticíclica para enfrentar a crise. O maior agravo da crise na Grécia porém é outro muito mais complexo, com o alto endividamento a única saída que os gregos teriam seria um suposto "calote", onde o governo emitisse moeda para dar liquidez a economia e reduzir o endividamento, visando então a implementação de medidas de austeridade fiscal, mas o dilema não é o calote e nem a emissão de moeda em si, o primeiro dilema é que o referido país está na Zona do Euro, uma Zona Econômica Comum que utiliza a mesma moeda em todos os países membros e logo se há desvalorização da moeda em um país por injeção de liquidez na economia, todos os outros membros que compartilham da mesma moeda veem-na desvalorizada e passam a enfrentar enormes dificuldades para manter a competitividade do país na disputa por investimentos, além disso uma injeção muito grande de liquidez, ou seja, muita emissão de dinheiro, ao mesmo tempo que desvaloriza a moeda, também acaba por gerar a inflação e aumentar o preço dos produtos aos consumidores, que no caso da Europa sofrem com um brutal índice de desemprego.
O desemprego aliás também é um dos agravantes desta crise econômica, hà exatos 25 meses o país heleno sofre com um fechamento crescente dos postos de trabalho em várias áreas por razão do consequente aumento no preço das matérias primas que encareceram os produtos finais e assim encontraram menor demanda, imputando ao setor manufatureiro e produtivo a responsabilidade de cortar empregos formais como meio de garantir sua manutenção no mercado sem ter que fechar as portas.
A crise porém não se limitou as belas ilhas da mitologia, Portugal que desde 2008 não havia se recuperado integralmente dos efeitos da crise mundial, sentiu o golpe ainda mais certeiro nesta ocasião, o povo português lida diariamente com a ameaça de perder o emprego e se somar a uma grande massa de desempregados que já beira os 10% da população, ainda no caso de Portugal, houve um pacote de "austeridade fiscal" semelhante ao pacote implementado na Grécia para impor seriedade à equipe econômica que conduz o setor financeiro no país, mas ambos vieram tarde e impuseram somente à população o ônus da sucumbência da política financeira arcaica e irresponsável da Europa, que agora tenta driblar as consequências negativas aumentando a carga tributária, arrochando salários e cortando benefícios sociais.
Como num jogo de dominó a Espanha revelou a poucos dias que também está sofrendo sérios problemas, semelhantes aos da Grécia, com o endividamento do estado e que o desemprego também está assolando os espanhóis na mesma proporção que assola aos portugueses e para tanto seguiu a recomendação que o Banco Central Europeu, uma espécie de "FMI" dos desenvolvidos da Europa, fez à Grécia e Portugal,implementando um radical plano de ordem econômica que colocou todo o peso dos problemas sobre a população da Espanha, levando milhares de pessoas às ruas em manifestação contra as medidas tomadas pelo governo local, que como nos outros países em crise também está cortando vários benefícios sociais.
A Alemanha está no meio da situação difícil simplesmente por utilizar o Euro como moeda, o fato é que o país tentou intervir para ajudar a Grécia na intenção de conter os efeitos da crise no continente, mas foi tarde e os efeitos se alastraram fazendo com que mesmo a economia saudável dos germânicos enfrentasse certo grau de desemprego, ainda que seu índice seja menor do que nos demais países da Zona do Euro, mas a Itália apesar de não aparecer tanto quando se fala da atual crise financeira, está amargando os piores níveis de desemprego, batendo os índices da própria Grécia e chegando a projeções que conferem aos italianos o temor de conviver com uma parcela de 11% de desempregados, acarretando uma série de complicações no país.
Em meio a esta tormenta, a Grécia cogitou abandonar o Euro e implementar uma moeda própria para tentar salvar-se sem prejudicar os demais países do continente, mas o modelo Argentino de troca de moeda é caótico demais para os gregos e o modelo Uruguaio de troca de moeda, ainda que bem organizado e sadio, não será mais eficaz já que agora várias economias européias estão em colapso, o que anula e retira das mãos da Grécia a responsabilidade de resolver essa situação sozinha.
Portanto, a conclusão a que se chega é de que a bonança dos países emergentes deve ser sempre conduzida com responsabildiade para não sofrer consequências tais como a Europa sofre agora, mas a maior lição que se tira disso tudo é de que o tempo passa, a história se repete e a Europa não aprende nada.