segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Abra a Janela Quando Todas as Pessoas a Fecharem.

Certo dia olhei para a rua através da janela do meu quarto,aquela mesma janela onde várias vezes eu dei gargalhadas mas também chorei,a mesmissima janela por onde eu joguei versos de poesia ao vento e onde por vezes contemplei toda a dor dos meus desamores.
Neste dia tudo foi diferente,olhei pra muito mais além de tudo o que eu já havia visto por alí,não estava mais filosofando sobre o mundo,nem criando discursos novos sobre uma mesma coisa,não estava a admirar o movimento dos carros sempre iguais e muito menos procurando cores novas ou nuvens de diferentes formatos no céu.
A ocasião era diferente,num dia em que todos fechavam a janela,eu era o único de toda a vizinhança que a abria,eu queria ver o mundo quando todos se fechavam para ele,eu queria coisas novas,como se a janela fosse um portal pra outro mundo,um mundo onde as coisas são completamente diferentes.
Ao abrir a janela,percebi que chovia muito e que não era uma chuva boba,de dez minutos,e nem fina feito garoa que sopra ao nosso rosto goticulas de agua semelhantes ao tamanho da gentileza das pessoas hoje em dia,minúsculas.
Neste exato momento senti que a parte elétrica do meu organismo se manifestou,entendi o propósito da minha ação,a ocasião me pedia uma reflexão sobre as pessoas.
O ato de abrir a janela num dia em que todas as pessoas a fecham foi apenas um pretexto que as coisas encontraram pra me trazer aquele recado um tanto estranho,o recado era que eu precisava enxergar algo que todos poderiam ver através da janela,mas que por fecharem-na habitualmente sempre pelas mesmas causas,não viam.
Numa breve associação um tanto estranha e pouco comum,me veio na mente uma comparação do meu ato com a janela em relação aos atos das pessoas com as pessoas,eu senti algo,algo a me soprar ao pé do ouvido que o nome disso era "segunda chance".
Pensei então que estava delirando,ora essa,desde quando abrir a janela em um dia de chuva,quando o silêncio reina em casa e você sente algo inusitado é segunda chance?
Como num tranco me veio a resposta,dei uma segunda chance aos meus olhos,eu me dei uma segunda chance de ver o que ninguém via,uma segunda chance de aprender mais.
Em segundos vi um flash de um momento do meu dia,quando na escola eu conversava com uma das minhas professoras prediletas,a qual alguns disseram ter ido embora da escola,falava a ela sobre a falta que faria se fosse embora dalí e do temor que eu tinha disso,me lembrei que um semestre antes de ter aulas com ela,ouvia os alunos dizerem que ela era um problema,que não era uma boa professora,mas nunca dei bola,sempre acreditei numa segunda chance e foi nisso que segui pensando em toda a minha caminhada até em casa.
Quando recai em mim,estava eu com uma sensação de ter caminhado até aquele momento outra vez e voltado a mim como um mergulhador que retorna a água num mergulho,dentro do meu quarto,de frente pra minha janela,pra perceber tão simplesmente que quando eu me peguei dizendo a professora o tamanho de sua importância,eu fazia algo diferente do que todas as outras pessoas,eu lhe dava um segunda chance,eu abria-lhe a janela ,quando todos os outros a fechavam.
Percebi que a chuva ficou mais forte ainda,que as gotas ficaram maiores e senti que na segunda chance que dei,aumentei o grau e o tamanho da minha generosidade,ela já não era tão pequena e medíocre quanto as goticulas de uma humilde garoa,ela fizera uma diferença tão grande,que descobri no simples ato de abrir a janela em meio a chuva,o quão importante é dar uma segunda chance pra quem espera que você feche-lhe a janela igualmente a todos os outros quando a tempestade te desafia a desistir.